quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A metodologia de investigação histórica

As reflexões sobre ensino de História vêm se subordinando à preocupação com a aprendizagem. O aluno constitui-se no centro das atenções: seu mundo social, seu desenvolvimento cognitivo, suas perspectivas e limitações, sua conscientização, assim como a necessidade de sua participação ativa no processo de ensino-aprendizagem. Nesse contexto, desde a década de 60, a ênfase na necessidade de renovação metodológica em sala de aula favoreceu o surgimento de propostas que separam os métodos de ensino dos conteúdos explícitos. O uso de audiovisuais como recursos didáticos começa a ser difundido na década de 70, e portanto a proposta deste Projeto não se apresenta como uma inovação para o ensino, mas sim como a experiência de um tipo de metodologia utilizado em um espaço diferente da escola.

Considera-se que no ensino fundamental e médio, é possível e necessário produzir conhecimento e, por conseguinte, considera-se algo primordial a familiarização do aluno com a metodologia de investigação histórica. Esse processo interessa, pois consiste em um trabalho de reconstrução do conhecimento – isto é, de construir em sala de aula o que já está construído na historiografia.

A metodologia de investigação, possuindo aqueles elementos comuns ao processo cognitivo desenvolvido fora e dentro da escola (problematização, busca de soluções, descoberta), se torna interessante pois permite aos alunos aprender mais facilmente a história. Assim, acreditamos que esta seria a metodologia mais adequada para se acompanhar o esforço historiográfico de desconstruir, reconstruir e construir histórias.

Dentro dessa metodologia, espera-se uma postura ativa do aluno durante todo o processo. Para isso, é necessário oferecer condições para exercer tal posição, para aprender pela descoberta. Esse trabalho crítico é similar ao que o historiador deve exercer para com as suas fontes, e para tanto cito Le Goff, um dos expoentes da Nova História,

 "No limite, não existe um documento verdade. Todo documento é mentira. Cabe ao historiador não fazer o papel de ingênuo. (...) É preciso começar por demonstrar, demolir esta montagem (a do monumento), desestruturar esta construção e analisar as condições de produção dos documentos-monumentos."

Desta forma, todo o processo, leva-nos a outra discussão, a que alça o cinema como fonte para o historiador. Assim, procuramos instigar os alunos à participação durante os debates, através de perguntas sobre o filme ou sobre o conhecimento prévio que tinham. Tentamos partir de uma situação-problema, que tenha elementos da realidade imediata dos discentes ou relevantes em sua experiência de vida.

Assim, a partir da exibição do filme, trabalhamos com os alunos um processo de desconstrução do conhecimento. Primeiro situamos o filme, aquela realidade aparente da qual a obra trata, para então analisarmos a realidade que os alunos conhecem daquela situação e tirarmos conclusões e/ou impressões sobre as obras. Nesse sentido, o proposto por nós é sempre apresentar aos alunos aquilo que o diretor se dispôs e, com isso, mostrar que o filme se trata de uma obra ficcional.

Por esta perspectiva, a intenção do diretor , apresentada por nós aos alunos, funciona como elemento gerador de uma discussão que vai além da crítica sobre o meio em que o filme foi produzido e permite a sua discussão também como obra de arte com as regras e conceitos necessárias à tal trabalho. Além disso, os longas selecionados tratam normalmente de aspectos mais do cotidiano, mesmo quando fala da vida de grandes personagens políticos. Priorizamos, na nossa seleção, obras que demonstram a maneira que um processo histórico macro se processa na vida das pessoas comuns, no aspecto micro. Assim, é possível perceber que a dominação política não é concebida como algo absoluto.

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